segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Capoeira Regional e suas características

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A Capoeira Regional é uma manifestação da cultura baiana, que foi criada em 1928 por Manoel dos Reis Machado ( Mestre Bimba ). Bimba utilizou os seus conhecimentos da Capoeira Angola e do Batuque (espécie de luta-livre comum na Bahia do século XIX) para criar este novo estilo.
Para fugir de qualquer pista que lembrasse a origem marginalizada da capoeira, mudou alguns movimentos, eliminou a malícia da postura do capoeirista, colocando-o em pé, criou um código de ética rígido, que exigia até higiene, estabeleceu um uniforme branco e se meteu até na vida dos alunos. "Para treinar com meu pai era preciso provar que estava trabalhando ou mostrar o boletim do colégio", conta Demerval dos Santos Machado, conhecido como "Formiga" nas rodas de capoeira, e organizador do da Fundação Mestre Bimba , ao lado do irmão, Mestre Nenéu.
As características principais da Capoeira Regional são:
1. Exame de Admissão - Consistia de três exercícios básicos, cocorinha, queda de rins e deslocamento (ponte), com a finalidade de verificar a flexibilidade, força e equilíbrio do iniciante. Em seguida a aula de coordenação onde o aluno aprendia a gingar auxiliado pelo Mestre Bimba. Para ensinar a ginga, Mestre Bimba convidava o aluno para o centro da sala e frente a frente pegava-o pelas mãos e ensinava primeiramente os movimentos das pernas e a colocação exata dos pés, e em seguida realizava o movimento completo em coordenação com os braços. Este momento era importantíssimo para o iniciante pois lhe transmitia coragem e segurança.
2. Seqüência de Ensino de Mestre Bimba: O Mestre criou o primeiro método de ensino da capoeira, que consta de uma seqüência lógica de movimentos de ataque, defesa e contra-ataque, podendo ser ministrada para os iniciantes na forma simplificada, o que permite que os alunos aprendam jogando com uma forte motivação e segurança. Jair Moura, Ex-aluno explica: "Esta seqüência é uma série de exercícios físicos completos e organizados em um número de lições práticas e eficientes, a fim de que o principiante em Capoeira, dentro de um menor espaço de tempo possível, se convença do valor da luta, como um sistema de ataque e defesa". A seqüência original completa de ensino é formada com 17 golpes, onde cada aluno executa 154 movimentos e a dupla 308, o que desenvolve sobremaneira o condicionamento físico e a habilidade motora específica dos praticantes.
Os golpes integrantes da seqüência são:
Aú Armada Arrastão Bênção Cocorinha Cabeçada Godeme Galopante Giro Joelhada Martelo Meia Lua de Compasso Queixada Negativa Palma Meia Lua de Frente Role
3. Cintura Desprezada: É uma seqüência de golpes ligados e balões, também conhecidos como Movimentos de Projeção da Capoeira, onde o capoeirista projeta o companheiro, que deverá cair em pé ou agachado jamais sentado. Tem o objetivo de desenvolver a autoconfiança, o senso de cooperação, responsabilidade, agilidade e destreza. Os golpe que fazem parte desta seqüência são:
Aú Balão de lado Tesoura de costas Balão cinturado Apanhada Gravata alta
4 - Batizado: É um momento de grande significado para o aluno, pois encontra-se apto para jogar pela primeira vez na roda. Itapoan, Ex-aluno retrata o Batizado da seguinte maneira: "O Batizado consistia em colocar em cada calouro um nome de guerra. O tipo físico, o bairro onde morava, a profissão, o modo de se vestir, atitudes, um dom artístico qualquer, serviam de subsídios para o apelido". Fred Abreu referindo-se ao batizado, cita que na intimidade da Academia de Mestre Bimba ele assim se dizia "Você hoje vai entrar no aço". Desta maneira o Mestre avisava ao calouro que chegou a hora do seu batizado, era um momento de grande emoção, pois tratava-se de jogar capoeira pela primeira vez na roda amimada pelo berimbau. Para este jogo era escolhido um formado ou um aluno mais velho da Academia que estivesse na aula, que como padrinho incentivava ao afilhado a jogar, e após o jogo o Mestre no centro da roda levantava a mão do aluno e então era dado um apelido com o qual passaria a ser conhecido na capoeira.
5 - Esquenta Banho - Segundo Itapoan o "esquenta banho" originou-se da necessidade dos alunos de se manterem aquecidos. Logo após o termino da aula todos os praticantes corriam para o banheiro afim de tomarem uma chuveirada, no entanto o banheiro da academia era pequeno com um só chuveiro com água fina, o que proporcionava um congestionamento e a inevitável fila. Para não esfriar o corpo, os alunos mais velhos, normalmente os formados tomavam a iniciativa e começava o "Esquenta Banho". Este era um momento fértil da aula, pois se tratava do espaço do aluno, também chamado de "Bumba Meu Boi" ou "Arranca Rabo" devido aos freqüentes desafios para o acerto de contas, como exemplo, descontar um golpe tomado durante a roda. Muitos formados aproveitavam para testar suas capacidades desafiando dois, três, ou mais adversários. Também era muito comum o utilizar esse momento para o treinamento de golpes difíceis e sofisticados como: vingativa, rasteira, banda de costa e etc. 6. Formatura: A formatura era um dia todo espacial para o Mestre e seu alunos, um ritual com direito a paraninfo, orador, e madrinha, lenço de seda azul e medalha. A festa era realizada no Sítio Caruano no Nordeste de Amaralina na presença dos convidados e de toda a academia. Os formando vestidos todo de branco, usando basqueteira, atendiam o chamado do Mestre Bimba que solicitava a demonstração de golpes, seqüência, cintura desprezada, jogo de esquente (jogo combinado), em seguida a prova de fogo, o jogo com os formados, também chamado de "Tira Medalha", um verdadeiro desafio, onde os alunos formados antigos tentavam tirar a medalha dos formados com o pé, e assim manchar a dignidade e roupa impecavelmente branca. Itapoan descreve com muita propriedade, "O objetivo do formado antigo era tirar com um golpe aplicado com o pé, a Medalha do peito do formando, caso isso acontecesse, o aluno deixava de formar, o que era um vexame!". Por isso o aluno jogava com todos os seus recursos, enfrentando um capoeirista malicioso e técnico até o momento que o Mestre apitasse para encerrar o jogo. Aí, o formando conferia se a medalha continuava presa ao peito, que alivio estava formado! Dando continuidade ao ritual de formatura acontecia as apresentações de maculelê, Samba de Roda, Samba Duro e Candomblé.
7. Iuna: A Iuna é uma marca registrada da Capoeira Regional de Mestre Bimba, é um toque de berimbau criado pelo Mestre, que era tocado no final das aulas ou em eventos especiais, uma toque onde só os alunos formados tinham acesso a roda, com a obrigatoriedade de realizar um "jogo de floreio", bonito, criativo, curtido, malicioso e que deveria ter movimentos de projeção. Este jogo suscitava muita admiração e emoção.
8. Curso de Especialização: Este era um curso secreto onde só poderia participar os alunos formados por Mestre Bimba. Tinha como objetivo o aprimoramento da capoeira, com uma ênfase para os ensinamentos de defesa e contra-ataque de golpes advindos de um adversário portando armas como: navalha, faca, canivete, porrete, facão e até armas de fogo. Sua duração era de três meses divididos em dois módulos, o primeiro com a duração de sessenta dias e era desenvolvido dentro da academia através de uma estratégia de ensino muito peculiar do Mestre. O segundo com duração de 30 dias e era realizada na Chapada do Rio Vermelho, tinha como conteúdo as "emboscadas", a qual Itapoan assim se refere "Uma verdadeira guerra, verdadeiro treinamento de guerrilha. Bimba colocava quatro a cinco alunos para pegar um de emboscada. O aluno que tivesse sozinho, tinha que lutar até quando pudesse e depois correr, saber correr, correr para o lugar certo". Ao final do curso o Mestre Bimba fazia uma festa aos moldes da formatura e entregava aos concluintes um "Lenço Vermelho" que correspondia a uma titulação de Graduação dos Formandos Especializados.
9. Músicas: Podemos dividir em duas partes - a primeira referente aos toques de Berimbau, São Bento Grande, Santa Maria, Banguela, Amazonas, Cavalaria, Idalina e Iúna. A rigor cada toque tem um significado e representa um estilo de jogo. São Bento Grande é um toque que tem ritmo agressivo, indica um jogo alto com golpes aprimorados e bem objetivos, um "jogo duro". A Banguela é um toque que chama para um jogo compassado, curtido, malicioso e floreado. Cavalaria é o toque de aviso, chama a atenção dos capoeiristas que chegou estranhos na roda, outrora avisava da aproximação de policiais. Iúna é um toque especial para os alunos formados por Mestre Bimba, incita um jogo amistoso, curtido, malicioso e com a obrigatoriedade do esquente. Santa Maria, Amazonas e Idalina são toques de apresentação. A segunda eferência é sobre as musicas - quadras e corrido. As quadras são pequenas ladainhas com versos composto de 4 a 6 linhas. O corrido são cantigas com frases curtas que é repetido pelo coro. Plasticamente a Capoeira Regional é identificada pêlos golpes bem definidos, pernas esticadas, movimentos amplos, jogo alto e objetivo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O que o bom capoeirista deve saber

• Que de 50 golpes bem aplicados da capoeira que Mestre Bimba ensinou, 22 eram mortais.
• Que em 1930 o famoso Karatê não era conhecido na Bahia.
• Que o Mestre Bimba foi o Capitão da Navegação Baiana.
• Que Mestre Bimba teve sua primeira escola de capoeira Angola, em 1918 com apenas 18 anos, obtendo apenas em 1937 o alvará da Academia de Capoeira Regional.
• Que segundo Mestre Noronha, os berimbaus em seu tempo, era uma arma maligna e mortal. A verga (o pau do berimbau), era usado como cacetete e a varinha servia para furar os olhos do adversário que tivesse má conduta. Na época em que a capoeira era proibida.
• Que a capoeira até a metade do século XIX era temida até pela própria polícia. Marechal Deodoro da Fonseca deu início ao combate à prática da capoeira, naquela época, quem fosse pego dançando, jogando ou praticando a capoeira era considerando crime. O código penal previa de 02 à 06 meses de prisão.
• Os conhecimentos da capoeiragem são muitos, mas todo capoeirista tem que procurar se informar ou pelo menos, se manter informado!

Divisão de Golpes


Divisão dos Golpes

A parte física da Capoeira é a que faz o espetáculo da arte e a que exige mais do aluno capoeirista, afinal a capoeira é feita de golpes e contra-golpes em sua totalidade. Na capoeira, os golpes são chamados de Movimentos.
Didaticamente, podemos dividir os golpes da capoeira em três estilos diferentes, ou seja, em três grupos:

Movimentos Traumatizantes;
Movimentos Desequilibrantes;
Golpes Mortais

Movimentos Traumatizantes

Bênção, Chapa, Martelo, Queixada, Meia-lua de frente, Armada, Meia-lua solta, Meia-lua de compasso, Rabo de arraia, Chapa Giratória, Parafuso, Gancho, Martelo rodado, Chapa de costas, Chapa rodada,
Esporão, Martelo de chão, Ponteira, Cutilada, Galopante, Joelhada, Cabeçada, Godeme, Giro de Costas, Chapéu de Couro, Eclipse, Vôo de morcego.


Movimentos Desequilibrantes

Vingativa, Banda de costas, Arrastão, Boca de calça, Rasteira, Banda, Tesoura de costas, Tesoura de Frente, Tesoura em uma perna, Tesoura em ambas as pernas, Rasteira de mão, Banda trançada, Apanhada, Balão de lado, Crucifixo, Dentinho, Gravata baixa, Arqueado, Baianada, Balão cinturado, Gravata alta, Cruzilha, Cruz, Gira baiana, Giro de chão, Relógio, Chibata.

Golpes Mortais

Os que podemos chamar de golpes mortais são todos estes movimentos e mais alguns que por ventura apareçam, pois há uma infinidade de movimentos na capoeira. Para que um golpe destes seja mortal, basta que ele seja aplicado com maldade em pontos vitais ou mais sensíveis do corpo, como as têmporas, a nuca, o mediano da coluna vertebral, o estômago, os pulmões, o fígado e outros pontos do abdômem ou da cabeça.
Se mal aplicados, estes golpes ou qualquer outro golpe de capoeira poderá ser mortal ou deixar inválido o capoeirista desatento.
Exemplo de um golpe mortal é a PONTEIRA, que se for aplicada com maldade e força na altura do estômago, causa uma hemorragia imediata, sem muito o que se fazer para socorrer a vítima. Outro golpe que pode ser fatal e imediato é o MARTELO CINTURADO que acerta, na maioria das vezes, as costelas do adversário no rumo do baço.
Quando acontece um ataque destes, pouco há de se fazer. Geralmente a vítima morre no meio da roda ou até mesmo pode ser atirada para fora da roda, tendo além do traumatismo fatal no baço, fraturas múltiplas devido à queda.
Existe ainda uma outra maneira de se dividir em grupos os golpes da capoeira que nada mais são do que conjuntos de golpes que se assemelham e desta forma facilita o aprendizado.

Os golpes são:

DEFESAS: negativas, resistência, esquivas, cocorinha.

ATAQUES RODADOS: meia-lua, queixada, armada, meia-lua de compasso, meia-lua solta, chapéu de couro.

ATAQUES FRONTAIS: bênção, esporão, chapa, martelo, ponteira.

ATAQUES VOADORES:armada, queixada, meia-lua solta, martelo voador, vôo do morcego.

MOVIMENTAÇÕES: ginga, eu ia, rolê, fuga, troca, atravessa, meia volta, volta ao mundo.

GOLPES DE MÃO: galopante, godeme, asfixiante, cutilada, quebra-queixo, abafador.

ACROBACIAS:saudação, aú, duplo S, compasso, macaquinho, palhacinho, queda de rins, giro de cabeça, salto uno, salto duplo e triplo, salto mortal, eclipse, voador.

DESEQUILIBRANTES: rasteira, arrastão, chibata, vingativas, tesouradas, bandas.

ESPECIAIS: cabeçada, coice, batida de frente, carrinho de mão, trava de perna, boca de calça.

domingo, 5 de abril de 2009

A LENDA DOS ORIXÁS

"As lendas africanas dos orixás"

Um balalaô me contou:
"Antigamente, os orixás eram homens.
Homens que se tomaram orixás por causa de seus poderes.
Homens que se tomaram orixás por causa de sua sabedoria.
Eles eram respeitados por causa da sua força
Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.
Foi assim que estes homens se tomaram orixás.
Os homens eram numerosos sobre a terra.
Antigamente, como hoje,
muitos deles não eram valentes nem sábios.
A memória destes não se perpetuou.
Eles foram completamente esquecidos.
Não se tomaram orixás.
Em cada vila um culto se estabeleceu
sobre a lembrança de um ancestral de prestígio
e lendas foram transmitidas de geração em geração
para render-lhes homenagem."

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Capoeira - Instrumentos utilizados

Berimbau

Instrumento cordofono, é o principal instrumento da capoeira. Pode até acompanhar sozinho o jogo. É um arco feito de madeira específica, ligado pelas extremidades por um fio de aço. Na ponta inferior do arco está amarrada uma cabaça ou cuia bem seca que funciona como aparelho de ressonância, aplicada contra o ventre nú do tocador.

O arame é percutido com uma vareta de madeira, chamada de vaqueta, que o tocador segura com a mão direita, juntamente com o caxixi, acentuando o ritmo através do chocalhar e modificando a intensidade do som com a aproximação ou afastamento da abertura da cabaça na barriga. A mão esquerda, que segura o arco e a moeda (dobrão) encosta ou se afasta do arame para obter os mais variados sons. Atabaque

De origem africana, são tambores primários, cobertos com pele de animal, distendida em uma estrutura de madeira com formato de cone vazado na extremidade superior. São utilizados para marcar com as mãos o ritmo da dança.

Segundo Geoffrey Gorer, é a base da música negra: "The nase of negro is music is the drum, which is very probably a negro invention". Segundo Artur Ramos, os atabaques foram trazidos ao Brasil por negros sudaneses e bantús. O atabaque também é bastante usado no candomblé e nas danças religiosas e populares de origem africana.

Agogo

Instrumento de percurssão de origem africana é formado por duas campânulas de ferro, que são percutidas com uma vareta do mesmo metal, produzindo dois sons, um de cada campânula. O nome é da lingua gegenagô. É também usado nos candomblés, baterias de escola de samba, maracatu, conjuntos musicais e grupos folclóricos.

Vaqueta

É uma vareta de madeira de aproximadamente 40 cm, com uma extremidade um pouco mais grossa. Normalmente, é feita de biriba ou bambu.

Pandeiro

É instrumento de percurssão, composto de um aro circular de madeira, guarnecido de soalhos e sobre o qual se estica uma pele, de preferencia de cabra ou bode. Se tange batendo o compasso da dança com a mão. Acompanha o canto pela marcação do compasso.

Caxixi

É um instrumento em forma de pequena cesta de vime com alça, usado como chocalho pelo tocador de berimbau, que segura a peça com a mão direita, juntamente com a vaqueta, executando o toque e marcando o ritmo.

Capoeira - Maculelê: Dança e Luta


Existe em Santo Amaro da Purificação, Bahia, uma dança, um jogo de bastões remanescentes dos antigos índios cucumbis. É o maculelê. Esta "dança de porrete" tem origem Afro-indígina, pois foi trazida dos negros da África para cá e aqui foi mesclada com alguma coisa da cultura dos índios que aqui já viviam.

A característica principal desta dança é a batida dos porretes uns contra os outros em determinados trechos da música que é cantada acompanhada pela forte batida do atabaque. Esta batida é feita quando, no final de cada frase da música os dois dançarinos cruzam os porretes batendo-os dois a dois.

Os passos da dança se assemelham muito aos do frevo pernambucano, são saltos, agachamentos, cruzadas de pernas, etc. As batidas não cobrem apenas os intervalos do canto, elas dão ritmo fundamental para a execução de muitos trejeitos de corpo dos dançarinos.

O maculelê tem muitos traços marcados que se assemelham a outras danças tradicionais do Brasil como o Moçambique de São Paulo, a Cana-verde de Vassouras-RJ, o Bate-pau de Mato Grosso, o Tudundun do Pará, o Frevo de Pernambuco, etc.

Se formos olhar pelo lado do conceito de que maculelê é a dança do canavial, teremos um outro conceito que diria ser esta uma dança que os escravos praticavam no meio dos canaviais, com cepos de canas nas mãos para extravasar todo o ódio que sentiam pelas atrocidades dos feitores. Eles diziam que era dança, mas na verdade era uma forma de luta contra os horrores da escravidão e do cativeiro. Os cepos de cana substituíam as armas que eles não podiam ter e/ou pedaços de pau que por ventura encontrassem na hora.

Enquanto "brincavam" com os cepos de cana no meio do canavial, os negros cantavam músicas que evidenciavam o ódio. Porém, eles as cantavam nos dialetos que trouxeram da África para que os feitores não entendessem o sentido das palavras. Assim como a "brincadeira de Angola" camuflou a periculosidade dos movimentos da capoeira, a dança do maculelê também era uma maneira de esconder os perigos das porretadas desta dança. Uma outra versão diz que para se safarem das chibatadas dos feitores e capatazes dos engenhos, os negros dos canaviais se defendiam com pedaços de pau e facões.

Aos golpes e investidas dos feitores contra os negros, estes se defendiam com largas cruzadas de pernas e fortes porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas dos feitores de acordo com o abaixar e levantar do negro com os porretes em punho. Além desta defesa, os negros pulavam de um lado pro outro dificultando o assédio do feitor. Para as lutas travadas durante o dia, os negros treinavam durante a noite nos terreiros das senzalas com paus em chama que retiravam das fogueiras, trazendo ainda mais perigo para o agressor.

Atualmente a dança do maculelê é muito praticada para ser admirada. É parte certa na apresentação de grupos de capoeira e em eventos realizados como formatura, encontros, batizados, etc. É fundamental se preservar a dança do maculelê, ensina-la com destreza e capacidade aos alunos para que eles possam eventualmente fazer belas apresentações.

É maravilhoso podermos ver um maculelê bem feito, dançado por belas garotas vestidas a caráter ou por rapazes negros, fortes e raçudos. O maculelê pode ser feito com porretes de pau, facões ou facas, mas, alguns grupos praticam o maculelê com tochas de fogo ou "tições" retirados na hora de uma fogueira que também fica no meio da roda junto com os dançarinos. É um espetáculo perigoso, pois corre-se o risco de se queimar. Porém, é uma das coisas mais bonitas de se ver. Exige muita habilidade dos dançarinos.

"Sou eu, sou eu ... sou eu maculelê, sou eu ..." " Ô ... boa noite pra quem é de boa noite Ô ... bom dia prá quem é bom dia A benção meu papai a benção Maculelê é o rei da valentia ..."

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Elementos da Capoeira Angola

Já dizia o Mestre Pastinha, "Capoeira Angola é, antes de tudo, luta e luta violenta." Mas atualmente a Capoeira é normalmente praticada como um esporte ou simplesmente folclore para perservar as tradições.
É claro que entre os praticantes sérios, em seus treinos, os golpes são apenas simulados e a Capoeira torna-se um exercício físico e mental. A violência dos seus golpes, no entanto, não deixa espaço para meio termo; ou joga-se Capoeira 'para valer', com as suas sérias consequências ou apenas simula-se um jogo. A possibilidade de enquadrá-la em regras esportivas é inexistente; quem assim o faz está sendo leviano ou não conhece de fato a Capoeira. Os Golpes A Capoeira Angola tem um número relativamente pequeno de golpes que podem, no entanto, atingir uma harmoniosa complexidade através de suas variações. Assim como a música tem apenas sete notas .Os seus principais golpes são: Cabeçada, Rasteira, Rabo de Arraia, Chapa de Frente, Chapa de Costas, Meia Lua e Cutilada de Mão. A MúsicaA Capoeira é a única modalidade de luta marcial que se faz acompanhada por instrumentos musicais. Isso deve-se basicamente às suas origens entre os escravos, que dessa forma disfarçavam a prática da luta numa espécie de dança, enganando os senhores de engenho e os capitães-do-mato. No início esse acompanhamento era feito apenas com palmas e toques de tambores. Posteriormente foi introduzido o Berimbau (foto), instrumento composto de uma haste tensionada por um arame, tendo por caixa de ressonância uma cabaça cortada. O som é obtido percutindo-se uma haste no arame; pode-se variar o som abafando-se o som da cabaça e (ou) encostando uma moeda de cobre no arame; complementa o instrumento o caxixi, uma cestinha de vime com sementes secas no seu interior.O Berimbau, um instrumento usado inicialmente por vendedores ambulantes para atrair fregueses, tornou-se instrumento símbolo da Capoeira, conduzindo o jogo com o seu timbre peculiar. Os ritmos são em compasso binário e os andamentos - lento, moderado e rápido são indicados pelos toques do Berimbau. Entre os mais conhecidos estão o São Bento Grande, o São Bento Pequeno (mais rápido), Angola, Santa Maria, o toque de Cavalaria (que servia para avisar a chegada da polícia), o Amazonas e o Iuna.Numa roda de angoleiros o conjunto rítmico completo é composto por: três berimbaus (um grave - Gunga; um médio e um agudo - Viola); dois pandeiros; um reco-reco; um agogô e um atabaque. A parte musical tem ainda ladainhas que são cantadas e repetidas em coro por todos na roda. Um bom capoeirista tem obrigação de saber tocar e cantar os temas da Capoeira. O Jogo "Capoeira é um diálogo de corpos, eu venço quando o meu parceiro não tem mais respostas para as minhas perguntas" - Mestre Moraes. O jogo da Capoeira na forma amistosa, ou seja, na roda é verdadeiramente um diálogo de corpos. Dois capoeiristas se benzem ao pé do Berimbau e iniciam um lento balé de perguntas e respostas corporais, até que um terceiro 'compre o jogo' e assim desenvolve-se sucessivamente até que todos entrem na roda. A Malícia Elemento básico da Capoeira Angola, a malícia ou mandinga a torna ainda mais perigosa. Essa malandragem que faz que vai e não vai, retira-se e volta rapidamente; essa ginga de corpo que engana o adversário, faz o diferencial da Capoeira em relação às outras artes marciais. Essa é uma característica que não se aprende apenas treinando. MestresVicente Ferreira Pastinha (1889-1982) - Mestre Pastinha, "mestre da Capoeira de Angola e da cordialidade baiana, ser de alta civilização, homem do povo com toda a sua picardia, é um dos seus ilustres, um de seus obás, de seus chefes. É o primeiro em sua arte; senhor da agilidade e da coragem..." Jorge Amado. Baiano de Salvador, do Pelourinho, Pastinha foi o grande mestre da Capoeira Angola, aperfeiçoando a arte centenária dos escravos. Ele organizou uma escola, estabeleceu um método de ensino com base nas antigas tradições e ainda escreveu o primeiro livro do gênero, onde expõe a sua concepção filosófica. Foi com o Mestre Pastinha que foram instituidas as cores amarelo e preto para o uniforme dos angoleiros e a constituição da bateria composta por três berimbaus, dois pandeiros, um atabaque, um reco-reco e um agogô. "Capoeira é tudo o que a boca come", dizia ele na sua singular filosofia. Formou capoeiristas como João Grande, João Pequeno, Curió e tantos outros

História da Capoeira




O Brasil a partir do século XVI foi palco de uma das maiores violências contra um povo. Mais de dois milhões de negros foram trazidos da África, pelos colonizadores portugueses, para se tornarem escravos nas lavouras da cana-de-açúcar. Tribos inteiras foram subjugadas e obrigadas a cruzar o oceano como animais em grandes galeotas chamadas de navios negreiros. Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro foram os portos finais da maior parte desse tráfico.Ao contrário do que muitos pensam, os negros não aceitaram pacificamente o cativeiro; a história brasileira está cheia de episódios onde os escravos se rebelaram contra a humilhante situação em que se encontravam. Uma das formas dessa resistência foi o quilombo; comunidades organizadas pelos negros fugitivos, em locais de difícil acesso.Geralmente em pontos altos das matas. O maior desses quilombos estabeleceu-se em Pernambuco no século XVII, numa região conhecida como Palmares. Uma espécie de Estado africano foi formado. Distribuído em pequenas povoações chamadas mocambos e com uma hierarquia onde no ápice encontrava-se o rei Ganga-Zumbi, Palmares pode ter sido o berço das primeiras manifestações da Capoeira.Desenvolvida para ser uma defesa, a Capoeira foi sendo ensinada aos negros ainda cativos, por aqueles que eram capturados e voltavam aos engenhos. Para não levantar suspeitas, os movimentos da luta foram sendo adaptados às cantorias e músicas africanas para que parecessem uma dança. Assim, como no Candomblé, cercada de segredos, a Capoeira pode se desenvolver como forma de resistência.Do campo para a cidade a Capoeira ganhou a malícia dos escravos de 'ganho' e dos frequentadores da zona portuária. Na cidade de Salvador, capoeiristas organizados em bandos provocavam arruaças nas festas populares e reforçavam o caráter marginal da luta. Durante décadas a Capoeira foi proibida no Brasil. A liberação da sua prática deu-se apenas na década de 30, quando uma variação da Capoeira (mais para o esporte do que manifestação cultural) foi apresentada ao então presidente, Getúlio Vargas. De lá para cá a Capoeira Angola aperfeiçoou-se na Bahia mantendo fidelidade às tradições, graças principalmente ao seu grande guru, Mestre Pastinha , que jogou Capoeira até os 79 anos, formando gerações de angoleiros .